IÇAMI TIBA FALA SOBRE A DIFÍCIL ARTE DE EDUCAR OS FILHOS
Psiquiatra e educador Içami Tiba dá orientação aos pais sobre como agir na formação dos filhos e sentencia: palmada não resolve.
Para o educador, os pais não têm conhecimento necessário para educar os filhos, recorrendo a erros como falta de imposição de limites e superproteção.
Mesmo diante da gama de informações disponíveis os pais do século 21 ainda encontram dificuldades na missão de educar. Para reverter esta realidade, é necessário que todos os envolvidos na educação - como pais e professores - busquem formas de amenizar os problemas decorrentes da nova dinâmica familiar e da mudança de valores.
Seguindo a linha de ''quem ama, educa'', o psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de 22 livros, faz um alerta em entrevista à Folha: os pais não têm o conhecimento necessário para educar os filhos, recorrendo a erros como falta de imposição de limites e superproteção.
Muitos pais evitam o sofrimento e a frustração do filho, acreditando que favorecem a formação deles. Que prejuízo isso pode acarretar no futuro?
Se a gente faz pelo filho o que ele tem que fazer, estamos deixando-o 'aleijado', e no futuro ele não vai render o quanto poderia. Esse filho pode se tornar uma pessoa sem iniciativa que, além de ficar esperando que os outros façam as coisas por ele, também quer mandar. Os pais devem se tornar educadores, fazendo do filho um cidadão ético e não uma pessoa mimada e dependente.
É possível reverter uma situação dessas na adolescência?
Desde que os pais retomem a posição de autoridade, preocupando-se em não dar ao filho o que ele não tem competência de fazer. Se não for severo e não cortar as folgas do filho, ele se acostuma a ser um bebezão adolescente e lá fora a vida não é assim.
Castigo resolve?
Eles têm que arcar com as consequências: sujou tem que limpar, tirou brinquedo do lugar tem que guardar. O que não adianta é dar umas palmadas, pois depois o filho adolescente bate no pai, que tem vergonha de dizer isso aos outros. Muitos pais estão apanhando moralmente do filho, porque eles deixaram a tirania crescer e não tiveram a autoridade suficiente para educar.
É possível conciliar a vida profissional com o papel de pai e mãe.
E o papel da escola, como fica?
Se os pais acompanharem a vida escolar do filho, melhor será o estudante. O grande erro é o fato de muitos pais soltarem a educação em casa, achando que a escola vai educar. A criança educada em casa aproveita melhor a escola. Já os educadores precisam orientar os pais, que, muitas vezes, são contra a escola. Mas como eles podem ser contrários à escola que ensina o filho deles? Tem pais que querem mudar o mundo para que o filho seja do jeito que é, mas o mundo não vai mudar. É a pessoa que tem de se adaptar ao mundo. Na escola também tem que haver regras, por isso se fala em disciplina, em cidadania escolar. É preciso que escola e família eduquem junto à criança, o que chamamos de educação a seis mãos.
Para finalizar, que recado o senhor deixaria aos pais e educadores do século 21?
O maior problema dos pais de hoje é que eles não têm o conhecimento necessário para educar os filhos. Por isso, meu conselho é: estudem. Têm matérias sobre educação nos jornais, livros. Aos educadores, digo que tem que se atualizar sempre, pois teorias existem muitas, sendo algumas até obsoletas. Ou a pessoa se atualiza ou vai continuar funcionando como profissional do passado com jovens do presente.